A complementariedade com o sistema hidrelétrico brasileiro é uma das chaves para a boa concorrência das biomassas provenientes do processamento da cana. Seu potencial de agregação à matriz pode chegar a 4,2 GW em períodos de safra, entre os meses de maio a novembro, segundo o diretor da Procknor Engenharia, Celso Procknor.
“O segmento canavieiro precisa divulgar mais exemplos de valores tangíveis para que possam ganhar maior visibilidade e terem seu potencial plenamente aproveitado”, opinou o executivo. O potencial poderia ser aproveitado justamente no período seco, quando as UHEs têm sua capacidade de fornecer potência limitada, em função dos níveis reduzidos da Energia Natural Afluente (ENA).
“Não é possível que o agente público não consiga enxergar a complementariedade entre as biomassas da cana e as hidrelétricas. É preciso o convencimento com exemplos práticos dessa característica, que proporciona ganhos de eficiência e maior segurança ao Sistema Interligado Nacional (SIN)”, comentou Procknor.
O gerente de Bioeletricidade da Unica, Zilmar de Souza, adiantou no evento que os leilões de potência previstos pelo governo serão uma espécie de “balão de ensaio” para a futura reforma do setor elétrico. “Após a aprovação do PL 414, separação de lastro e energia, esses leilões terão sido uma experiência inicial para trabalharmos melhor a contratação dos atributos das renováveis, em especial nessa complementariedade com a fonte hídrica”, analisou.
O diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen, Leonardo Caio Filho, informou que a bioeletricidade da cana ofertada para a rede em 2021 poupou 14 pontos percentuais nos reservatórios do submercado Sudeste/Centro-Oeste, visto a maior previsibilidade e disponibilidade dessa energia justamente no período seco e crítico para o setor elétrico brasileiro.
Outros potenciais
Em sua apresentação, Celso Procknor ressaltou que deve haver uma união saudável entre usinas que produzem etanol de cana-de-açúcar com as que produzem o combustível a partir do milho. Para ele a produção associada das duas culturas ainda permitiria a exportação de 64 kWh por tonelada de cana, mesmo entregando toda carga necessária para o processamento do milho, considerando uma proporção de 4,5 toneladas de cana por 1 tonelada do alimento processadas na safra.
Somente essa complementariedade específica, de acordo com Procknor, poderia aumentar a eficiência do ciclo termodinâmico que utiliza a queima do bagaço de aproximadamente 60% para 72%, num exemplo cujos ganhos de eficiência são tangíveis. O consultor explicou ainda que o custo da energia térmica e elétrica que pode ser fornecida pelo bagaço excedente aumenta a viabilidade econômica do milho.
Outra oportunidade está na palha da cana, que exibe um potencial de exportação de 0,7 kWh por tonelada de palha com 35% de umidade, sendo a tendência atual o uso de fardos de palha com teor de umidade que varia de 15% a 35%. “Há alternativas como geração pura de energia com CVU (Custo Variável Unitário) associado e o uso em projetos de cogeração em processos que demandem energia térmica, além da produção de etanol de segunda geração”, elenca.
Outro exemplo apresentado é a competitividade dos ativos greenfield em comparação com os projetos já existentes. As primeiras possuem custo de conexão maior, visto terem a probabilidade maior de estarem mais longe dos centros de consumo. Por outro lado, as iniciativas a serem implementados abrem opções de retorno financeiro como a produção integrada de etanol e energia.
No caso dos projetos brownfield, o custo de conexão será baixo, pois possivelmente já se encontram próximos dos centros de carga. No entanto, o retorno financeiro será apenas com a produção adicional de energia elétrica.